O PROJETO

O Projeto Tradução da Miséria foi originalmente criado pelo artista plástico Joe Nunes para ser uma exposição paralela ao Salão de Arte Ambiental da Fiema Brasil, que aconteceu de 24 a 27 de abril desse ano em Bento Gonçalves – RS. Foram doze telas no formato 1m x 60 cm, cada uma baseada em entrevista que o artista realizou com doze catadores de materiais recicláveis em onze cidades do Rio Grande do Sul. Todas as entrevistas foram registradas em vídeo e tornaram-se um documentário em longa-metragem também intitulado Tradução da Miséria.




A IDEIA


A base da construção de Tradução da Miséria foi contrapor o lugar comum para onde vão as palavras “meio ambiente” e “arte”, que é produção artística a partir de sucata ou materiais jogados no lixo. Em Tradução da Miséria esse chavão há muito batido é superado, em primeiro lugar porque algo que o artista Joe Nunes aprendeu com os catadores de materiais recicláveis é que fazer isso não é reciclagem e sim reuso e reuso sem sustentabilidade, pois todas as garrafas PET que são transformadas em artesanato, por exemplo, logo voltam para o lixo e deixam de ser recicláveis, causando poluição. O outro motivo é o mais importante (sendo que o primeiro é um exemplo disso): a sociedade costuma somente analisar as coisas superficialmente (por comodidade, desinteresse ou crueldade) e no caso da reciclagem e mais especificamente dos catadores avalia as coisas de uma ótica externa, sem nenhuma concepção ou conhecimento de causa.
Ao buscar traduzir a miséria moral da sociedade, que impõe a exclusão social e política aos catadores, Tradução da Miséria mostra essas pessoas não como “agentes ambientais que salvam o mundo apesar de sua ignorância” e sim como agentes sociais e políticos, donos de suas vidas, protagonistas de suas histórias e pessoas tão ou muito mais capazes que a maioria daqueles que não sofrem as crueldades a que elas são expostos dia-a-dia.

D. Helder Câmara dizia: “Quando dou comida aos pobres me chamam de santo e me exaltam. Quando pergunto por que existem pobres e por que eles passam fome chamam-me de comunista e me execram”. Esse pode ser o resumo do projeto, ele não quer ajudar os catadores, eles não precisam de ajuda. O que ele quer é mostrar que o que falta para eles é o nosso respeito e não nossa pena, que falta também é termos dignidade suficiente para assumirmos que além de sermos culpados pela poluição somos também culpados pela exclusão social, que nossa miséria moral é que causa a miséria social e econômica de seres humanos iguais a nós.


DOCUMENTÁRIO

Completando a obra todo o processo de entrevistas e produção das telas, bem como depoimentos do autor e da equipe foram registrados em vídeo. A riqueza desse material captado desse vídeo acabou transformando-o em outra obra de arte, o Documentário que recebeu o mesmo nome da mostra artística.

As imagens e direção são de Christofer Dalla Lana e Diego Dorneles e a produção executiva é de Vanessa Schuh (produtora executiva de todo o projeto).








Tradução da Miséria foi produzido pela a.g.a. Produções Artísticas e Culturais e o documentário pela Nawal Filmes (ambas de Santa Cruz do Sul), a realização foi da PROAMB e Fiema Brasil e o patrocínio foi da Lei Rouanet, Bertolini, Construtora Dalmas, e UniCasa com o apoio da vinícola Gran Legado.