DIÁRIOS DA TRADUÇÃO


AVALIANDO A TRADUÇÃO
Por Joe Nunes



Foto: Vanessa Schuh
Mesmo antes de começar o projeto eu sabia que ele iria chocar, mexer com o bom conceito que a sociedade tem dela mesma. O que não imaginava é que a primeira pessoa a se ver em contradição com seus conceitos e até mesmo se descobrir preconceituoso seria eu mesmo.

A cada entrevista meu roteiro que dizia para onde ela deveria ir era rasgado por respostas surpreendentes. Eu que me julgava conhecedor dos catadores e de suas histórias me vi muitas vezes encurralado por meus próprios preconceitos. Cada vez que conceitos que jamais imaginava sair da boca de alguém teoricamente sem um profundo conhecimento da estrutura na qual a sociedade está organizada eu me dava conta que a minha tarefa ali era realmente de ouvir repostas para as perguntas que fazia, sem prever as prováveis respostas e sem ter certeza sobre a próxima pergunta. Estou tendo a chance de viver experiências que nenhuma aula de sociologia avançada ou um livro com intrincadas teorias poderiam me trazer.

Não sou ingênuo de achar que possa mudar a sociedade apenas com doze telas, mesmo que elas estejam impregnadas de densas e magníficas histórias e de gritos silenciosos de revolta, mas nesse momento me sinto mais próximo do meu dever como artista, sinto estar mais perto de entender Brecht quando ele dizia para desconfiarmos sempre do que parece natural, perto de Artaud e me somando a ele para atacar o espírito público.